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Palestra de Paulo Freire no DESED (Banco do Brasil)
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Dentro desse futuro e desse presente que a gente teria que, no caso da educação por exemplo indiscutivelmente, pensar na quantidade de educação pública que o país, que o Brasil, que o governo oferece, por isso que eu tô falando em educação pública, a quantidade de educação que o governo oferece à demanda social por educação. Ora, quando a gente sabe, por exemplo, que as estatísticas brasileiras ainda são muito incompletas, mas que há entre seis a oito milhões de Mariazinhas e Pedrinhos brasileiros com uma idade na faixa etária de sete a catorze anos sem ter escolas para ir e que eu até costumo dizer sempre proibidos de ter escola. Quando a gente sabe que nos centros urbanos a luta operária forçou o estado burguês, quando eu digo agora estado burguês é sem nenhuma verborreia, forçou o estado a responder à demanda popular que a classe popular pressionou como resultado da pressão que a classe popular fez, então, muitos meninos proletários entram na escola pública e o que é que acontece com eles? Uma grande parte é expulsa da escola no primeiro e segundo ano e aí a esse fenômeno de expulsão da escola, os especialistas chamam de evasão escolar. Como se os meninos tivessem feito um congresso aqui em Brasília [RISOS] e tivessem decidido que do primeiro para o segundo se evadem.[RISOS] O verbo evadir significa outra coisa, entende? Então, menino não sai porque quer, porque ele decidiu, menino foi expulso porque não aprendeu, por exemplo, porque não se alfabetizou. E não se alfabetizou porque houve incompetência da escola e porque houve ideologia negativa da massa popular no processo de ensinar a língua portuguesa. É isso que se dá. Segundo, uma grande parte dos que entraram, passaram pela alfabetização, mas morrem do terceiro para o quarto em Matemática. E no quinto morrem em Geografia. Isso eu sei por causa dos estudos que estão sendo feitos. Então quando você acompanha uma geração de crianças que se matricularam na escola no ano X, cinco anos depois se vocês forem ver o que foi que chegou ao fim dessa geração é uma coisa, uma quantidade, irrisória. Então, os meninos que entram grande parte são excluídos no primeiro ano, do primeiro para segundo e a outra parte que fica é expulsa mais adiante. E fica então uma minoria que chega ao fim do curso ginasial, na minha época e hoje é - [Terceiros] primeiro grau. - primeiro grau. Vou sempre perguntando a ela [RISOS]. Então... acontece então uma coisa terrível, nesse momento que é que de um lado vão os meninos que puderam estudar. Olha, os meninos ricos estudaram na escola primária paga e chegam aqui com os meninos que chegaram pela escola pública caindo, quando chegam aqui os meninos ricos fazem isso e vão para universidades gratuitas e os pobres fazem isso e vão para universidades pagas. Quer dizer, esse treco é imoral, a solução não é privatizar a educação. Essa mania de privatizar tudo e que não é privatizar. Quer dizer, eles pegam uma coisa pública e transformam em privatização absoluta para eles. Ninguém privatiza o que não dá lucro. É preciso que haja uma reorientação desta política que não pode ser feita se a reorientação se dá apenas na educação. Tem que ser uma reorientação dentro da globalidade a ser reorientada da política; quer dizer, em favor de quem eu administro? E se eu administro em favor de alguém é porque eu estou contra alguém, e não há que ter medo de dizer essas coisas. Quer dizer, mas ser contra não é mandar matar os caras, por exemplo, eu vou seguir um exemplo aqui, em lugar de fazer escola, por exemplo, uma escola a mais numa zona rica de São Paulo que já tem suficiente escola, porque não fazer essa então na zona periférica que não tem? Uma praça pública, vocês já viram, eu pelo menos nunca vi, nem no estrangeiro e nem em canto nenhum. Nenhuma zona popular que tenha jardins de árvores, não sei se em Brasília tem. Agora onde você começa a chegar e vê jardim arborizado e isso aqui você pode dizer nisso aqui mora uns caras mais ou menos. Quer dizer, então em lugar de fazer jardins nas zonas mais bonitas, porque não fazer jardinagem nas zonas desprezadas? Porque não trabalhar com as massas populares lá? Fazer uma educação democrática é eminentemente democrático, uma educação antielitista, uma educação que refaça a compreensão da vida do menino pobre, quer dizer, que os educadores sejam ideológicos e politicamente reformados para saber que a criança que tem fome, tendo dificuldade indiscutível de aprender, não ganha uma inteligência má só porque tem fome. Porque ainda tem essa, esses preconceitos, os meninos chamados carentes. Os carentes afetivos, os carentes físicos, mudam, mudam de inteligência. Na verdade, ninguém nasce inteligente, a gente faz a inteligência. Quer dizer, a gente constrói a inteligência, fábrica a inteligência, melhora a inteligência na medida em que a gente que é inclusive convidado a tratar da inteligência da gente. Isso é o que a escola não faz. Quer dizer, a escola atrofia a capacidade da gente, de modo geral, com exceções.
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