• Encontros com Paulo Freire
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    A escola com a qual eu sonho precisa, de um lado, do saber, que está gerando-se na prática do saber popular, que está gerando no campo, por exemplo, na periferia das cidades grandes. Precisa desse saber que nasce das manhas que os oprimidos têm que ter para pôde continuar vivendo. Se os oprimidos não virarem manhosos, inclusive, do ponto de vista biológico, do ponto de vista físico do corpo. Você já imaginou o corpo de oprimido que não fique manhoso como é que aguenta dormir na lama ou perto da lama? como é que um corpo de oprimido que não se imunize, que não fique manhoso, aguenta muriçocas aos montes? E o povão que tá lá aos montes do Nordeste sendo picado de mutuca, de tudo isso que tem por aí e o corpo vai absorvendo tudo isso? Quer dizer, isso que eu chamo de manha e a manha do oprimido é a manha que se dá no corpo ao nível da biologia, da fisiologia, é a manha que se dá ao nível da psicologia também, é a manha que se dá ao nível da cultura de modo geral. É preciso, então, que essa escola com a qual eu sonho precisa conhecer essas manhas, que ao mesmo tempo, são saberes que geram saberes, mas, por outro lado, não podem proceder do saber que a academia também cria, que a academia também gera, que à ciência, que é saber científico. Não podem proceder da formação mais rigorosa, mais precisa, inclusive, dos meninos dos mangues. Quer dizer, veja bem, os meninos dos mangues, os meninos populares, os meninos discriminados, precisam também desse saber mais rigoroso, precisam aprender matemática, precisam aprender biologia, precisam aprender tudo que os meninos ricos também aprendem. Há quem pense, por exemplo, de um ponto de vista reacionário, obviamente, que você pode fazer escolas de pobres, escolas de ricos. E a escola para os pobres seria exatamente aquela escola de meias verdades. Isso a classe dominante faz. Agora, eu não, eu acho que a criança popular tem o direito de saber.
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