• Paulo Freire e a Educação Matemática
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    A minha preocupação ao estar escrevendo esse livro é mostrar as vezes mais do que saberes, mostrar certas sabedorias indispensáveis ao professor ou a formação do educador por exemplo talvez o primeiro saber que deve virar uma sabedoria é o seguinte, a prática educativa se funda não apenas na inconclusão antológica do ser humano, mas na consciência da inconclusão. Quer dizer, é em cima desses dois pés de um lado a minha inconclusão do outro a minha consciência da minha inconclusão é aí que se funda a educação. Quer dizer, a educabilidade humana não tem outra explicação na assunção da minha inconclusão consciente como também é aí que se fundamenta minha esperança. Você imagine que incoerência seria, se inconcluso como somos e consciente da inconclusão não nos lançássemos num permanente movimento de procura, de busca. O ser que não procura é aquele que sendo inconcluso não se sabe inconcluso por exemplo a jabuticabeira, eu gosto muito de citar as jabuticabeiras que eu tenho aqui no quintalzinho aqui de casa, ela é inconclusa também porque o fenômeno da inconclusão é um fenômeno vital, portanto, não é exclusivo da existência humana. Mas o nível da inconclusão da jabuticabeira não tem nada a mais a ver com meu nível de inconclusão. Quer dizer, a jabuticabeira é inconclusa como inconcluso é meu Pastor Alemão aí nesse quintal, mas eles não se sabem inconclusos no caso da gente a gente assumiu a inconclusão e ao assumir a inconclusão a gente é levado a busca seria um absurdo a gente buscar sem esperança. É o seguinte, eu posso até buscar e não encontrar, mas a minha esperança faz parte do processo de buscar. Uma busca desesperançada é um contrassenso. Por exemplo nem sempre os educadores foram um dia desafiados para saber-se interminados, entende. Então eu estou escrevendo sobre isso. Um outro saber que eu acho que é uma sabedoria já sem o qual eu acho que não dá para ir a uma escola é o saber de que mudar é difícil, mas é possível. Quer dizer, como é Ubiratã que tu poderias andarilhar pelo mundo como tu andas na África, na Europa, nos Estados Unidos, discutindo o que é a matemática e discutindo como propor a matemática se tu não estivesse convencido de que um dia pode mudar ‘mas é claro’ não dava para você sair nem para Campinas está aí o impulso. Esse saber precisa ser discutido não imposto, porque nada disso pode ser imposto, mas posto em cima da mesa para que o jovem que está se formando para ser professor amanhã ele repouse nessa verdade. Eu me movo como professora como professor, porque apesar de saber quão é difícil é mudar, mas é possível pode ser até quem vai mudar o agente da mudança não seja nem se quer a minha geração, mas sem a minha geração a outra não vai mudar. [Entrevistador]: Nós trabalhamos para o outro do futuro que nós já acreditamos que seja possível. [Paulo Freire]: Exato. Então, um outro saber por exemplo, que eu preciso saber é que ensinar não é transferir conhecimento, transferir conteúdo, é lutar para com os alunos criar as condições em que o conhecimento seja construído, seja reconstruído. Quer dizer, isso para mim que é ensinar e quando eu não estiver convencido disso enquanto eu estiver convencido pelo contrário de que ensinar é chegar as nove da manhã e despeja um discurso transferidor de objetos que são apenas perfis de objetos que são os conteúdos, então eu não sei o que é ensinar, eu não sei o que é aprender. Por exemplo é preciso que eu como professor saiba que do ponto de vista histórico o homem e a mulher primeiro aprenderam para depois ensinar. Quer dizer, o aprender precedeu sempre o ensinar. O que está acontecendo na sistemática da escola? O ensinar virou o mais importante e o aprender foi burocratizado com a burocratização do ensinar. Quer dizer, na verdade o que eu não posso deixar de conhecer ou reconhecer é que os dois em processo contraditório dialético em que quanto melhor eu aprendo tanto melhor eu posso ensinar e quanto mais eu ensinar tanto melhor se pode aprender, mas foi aprendendo socialmente e historicamente as mulheres e os homens descobriram no ato de aprender diluída a prática de ensinar. Um dia na história dos homens e das mulheres e um dia mais ou menos recente descobriram que porque aprenderam era possível ensinar e aí se sistematizou o trabalho do ensino. A gente perdeu essa noção na história e inverteu os papéis. Eu estou escrevendo sobre isso também. Quer dizer, é preciso recuperar historicamente o grande papel do aprender, sem que isso signifique nenhuma diminuição ao ensinar.
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