• II Plenária Pedagógica com Paulo Freire
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    Associada a essa ideologia elitista, está o autoritarismo, de modo geral, é elitismo. Eu acho que esse pró-ideológico se constituiu num obstáculo maior do que a falta de verbas. Nós temos, inclusive, um orçamento milionário e o obstáculo maior continuaria lá. O elitismo e o autoritarismo. Eu poderia dar assim uns dois exemplos, disso, do autoritarismo e do elitismo, e os dois juntos, as vezes um autoritarismo que não é nem, se quer, da pessoa física, professor A, professor B. Mas, que é da estrutura mesma, da escola, do sistema, do subsistema escolar e, por sua vez, é subsistema do sistema maior que é a estrutura social, política, ideológica, econômica, e que dá corpo e que dá alma à sociedade que a gente tem. Dessa coisa que tá aí. Eu tenho dado sempre esse exemplo, porque eu vou repetir quando a gente pensa, por exemplo, que há oito milhões de meninos e meninas brasileiras em idade escolar que estão impedidos de estar na escola e quando se fala disso se diz que estão fora da escola, em lugar de dizer que estão proibidos de estar na escola se diz fora da escola, se diz fora da escola ‘Oito milhões fora da escola’, é como se a gente dissesse ‘Estão fora, mas poderiam estar dentro, só não estão porque não quer’, porque é uma mentira. É ideologia. Isso daí representa indiscutivelmente, é um dos pontos de partida da ideologia, das duas ideologias, é o autoritarismo casado com o elitismo dentro da constituinte da alma, o sopro vital do sistema que está aí brasileiro. O sistema que está aí não tem, porque veja a estatística fala em oito milhões, mas não diz onde busca esses oito milhões, não diz. De onde é que vem esses meninos e meninas que compõem esses oito milhões, fica lá discreta, bem-educada, que fala apenas nos números. Obviamente, desses oito milhões não há um menino ou uma menina das chamadas classes remediadas que estejam fora da escola, um, para constituir ou para aumentar essa estatística. E isso não ocorre porque Papai do Céu só gosta de menino remediado. Os oito milhões são meninos populares, são meninos do povo. Eu acho interessante que outro dia andaram no jornal, um jornal andou pesquisando que isso era uma concepção extravagante que Paulo Freire tava inventando de menino popular, que maravilha de ignorância. Pois bem, tem mais para mostrar o elitismo e o autoritarismo com que se decreta que oito milhões ficam fora e depois os governos ainda falam isso com pena, apenados desse fato e dizendo ‘Poxa, mais como é que isso ocorre ainda no fim do século?’ E acha dinheiro para outras coisas. Eu não tenho dúvida nenhuma que as escolas desse país podiam ser outras se a política do uso, se a política dos gastos públicos fosse outra nesse país. Mas, há um outro dado que vai em cima da questão que se coloca. Que pega de novo as duas ideologias juntas. É que entra por questão de pressão fantástica, as classes populares terminam como uma quantidade grande de meninos populares dentro das escolas públicas. Porque sejam meninos de faixa popular cujos pais conseguiram já um pouco de possibilidade econômica, material, que lhes deu chance de brigar mais, de pressionar mais, de chegar cedo para matricular o filho. Eu sei que entram meninos populares. E o que é que acontece com eles? Do primeiro para o segundo ano levam ‘pau’, como se dizia antigamente. Porque não aprendeu a ler e escrever e as escolas começam a falar, com exceções, de que há sim uma certa incapacidade natal, ontológica, do menino popular. E isso é uma vez mais mentira, é ideologia dominante. Evidentemente que as condições materiais precárias prejudicam a capacidade de aprender, mas não mudam a natureza do ser.
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