• II Plenária Pedagógica com Paulo Freire
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    Eu queria fazer uma consideração a propósito dessa questão do concurso. Em primeiro lugar, não cabe a nós da Secretaria de Educação organizar isso, isso é feito na Secretaria de Administração. Mas há uns dez dias atrás, numa reunião do secretariado, eu posso dizer isso aqui porque não é pecado, não é falta de ética da minha parte, mas, numa reunião do secretariado, quando se falou nessa questão de concurso, eu pedi a palavra para defender uma tese, que é da Secretaria de Educação, que ainda pode ser de outras também, eu creio e espero que seja de outras. E a tese era a seguinte nós precisamos fazer concurso, isso daí, inclusive é um imperativo constitucional, temos que fazer concurso, e é também um imperativo ético e é político. Concurso, apesar, de ser um meio ruim de você medir a capacidade de quem se candidata, é o que melhor defende os direitos das pessoas. Mas eu dizia: o que não é possível que numa administração popular, e não populista, faça com relação aos concursos, é propor provas para trabalhador preponderantemente manual. Quando eu digo preponderantemente manual, é porque todo trabalho implica a dialeticidade entre mão e cabeça, entre mão e emoção e razão, nós somos uma totalidade. É porque não possível é pedir a uma mulher que faz merenda, num concurso de habilitação para ser merendeira efetiva que ela separe sílabas (Aplausos). O que não é possível é pedir a um homem que limpa a escola, que é tão importante quanto nós, mas que tem uma tarefa específica, a de limpar a escola, o que não é possível é pedir a ele seu ponto de vista sobre Machado de Assis (Aplausos). Agora, para mim, o que é importante é que um dia ele estude também Machado de Assis. Isso é outra coisa. Fazer concurso pra ser um zelador da escola, um vigia da escola e discutir sobre Machado de Assis, ou Eça de Queiroz. E eu dizia, então, pelo menos a proposta nossa e a posição da secretaria é que a gente retarde inclusive os concursos, mas a gente não pode é submeter os nossos trabalhadores a uma humilhação como essa, eu acho isso uma humilhação. Não é possível, por exemplo, um concurso pra professora, na Secretaria de Educação, que não se vai fazer assim, eu nunca pude entender como uma professora faz concurso e o conteúdo sobre o qual o concurso quer girar, em lugar de ser conteúdo, é nome de autor. Como é que você pode compreender que a professora vai fazer um concurso sobre o pensamento do professor Saviani, do professor Gadotti e da professora Ana Maria Saul. Não! Concurso é sobre temas, é sobre a temática. O máximo que a secretaria faz é sugerir algumas leituras, mas que leiam quem quiser, quer dizer, então era isso que eu queria falar sobre esse problema do concurso público. Nós estamos lutando, agorinha contemplar umas companheiras nossas da Secretaria de Educação que estão aflitissímas, a minha assistente particular tá até querendo dar uma aula a elas, elas estão assustadas, elas fazem um café maravilhoso pra nós, mas vão aprender, não sabe o que diabos significa separar sílabas. Estão assustadas em perder o emprego delas. Essa coisa eu prometo a vocês, pode ser até que eu perca, essa guerra em imediato, pode ser até que eu perca e o fato de perder significa que eu peço demissão. Eu vou vir a ganhar essa guerra, concurso que não pode ser assim mais, numa administração como essa.
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