• Paulo Freire at Highlander: A Conversation with Myles Horton
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    Mas agora, você está falando precisamente sobre o sonho, esse fato de agora. Minha questão é ‘são esses sonhos seus ou são também grandes sonhos da comunidade que você está fazendo?’ Pois, se este for seu sonho, talvez você não venha a realizá-lo, se for seu sonho ou o sonho do time. Isso não significa que seu sonho não poderia ser compartilhado com a comunidade, deveria ser uma das táticas do educador compartilhar os sonhos com as pessoas, e assim em algum momento, as pessoas iriam pegar os sonhos de tal modo que os sonhos irão pertencer também as pessoas. Essa é uma das táticas do educador as vezes o educador não precisa compartilhar os sonhos, mas compartilhar o sonho por causa das pessoas mostrando ao educador a aderir os sonhos deles (pessoas) como sonhos do educador.
  • Do Silêncio à Palavra (vídeo 1 e 2)
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    Eu acho que não é possível existir humanamente, sem sonhos, sem utopias, sem sonho enquanto projeto, enquanto programa, enquanto curiosidade, enquanto querer ser diferente. Esses discursos que falam na morte dos sonhos, das utopias, são os mesmos que dizem que a história se acabou, são os mesmos que dizem que as classes sociais sumiram, mas que nós continuamos como classes sociais, continuamos com lutas de interesses entre interesses diferentes, antagônicos e continuamos a precisar dos sonhos.
  • Museu da Pessoa entrevista Paulo Freire
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    O sonho não é apenas um direito e até um dever que a gente tem, mas que o sonho faz parte da natureza do ser que nós, mulheres e homens, estamos sendo. Quer dizer, em outras palavras não era possível ser esse ser que somos. Que você veja, do ponto de vista biológico, do ponto de vista genético nós somos seres muito especiais. Nós somos seres programados, realmente, mas não determinados e a nossa programação é uma programação que se funda numa coisa com a qual a gente nasce, mas a gente recria que é isso que eu chamo a curiosidade diante do mundo. E por isso então nós somos também seres, ou estamos sendo seres que não resistimos continuar a viver sem estar envolvidos num pensamento permanente sobre o amanhã. Entende? É inviável para o ser humano continuar se ele parar de pensar no amanhã. Não importa que seja um pensamento em torno do amanhã. O mais ingênuo possível, o mais imediato o de se a gente vai ter café amanhã ou se a gente vai ler ou reler Hegel ou Marx, não importa. O que importa é que somos seres, de tal maneira constituídos, que o presente, o passado e o futuro nos enlaçam. A minha tese, então, é a seguinte não pode existir um ser permanentemente preocupado com o vir a ser, portanto, com o amanhã, sem sonhar. É inviável. Sonhar aí não significa sonhar a impossibilidade, mas significa projetar, significa arquiteturar, significa conjecturar sobre o amanhã. E quando tu me perguntas: A questão agora é saber qual é o sonho em torno desse amanhã? Segunda questão fundamental é saber com que sonho e contra que sonho. Porque eu não posso sonhar em favor de alguma coisa senão sonho contra outra, que é exatamente aquela que obstaculiza a realização do meu sonho. Eu não posso sonhar se eu não estou claro, também, a favor de quem eu sonho. Daí que o ato de sonhar seja um ato político, um ato ético e um ato estético. Quer dizer, não é possível sonhar sem boniteza, sem moralidade e sem opção política. Então, eu quero saber, quando você me diz ‘Paulo, eu também sonho’ e eu quero saber com que e a favor de quem você sonha. Quer dizer, qual é o sujeito beneficiário do teu sonho, é a burguesia que explora ou é a massa desertada que sofre e não basta que você me diga: eu sonho pela humanidade, porque a humanidade é uma abstração e não existe. Entende? Então agora quando você me pergunta: ‘Paulo, me diga qualquer coisa sobre seu sonho’. Eu te diria: O meu sonho fundamental é o sonho pela liberdade que me estimula a brigar pela justiça, pelo respeito do outro, pelo respeito à diferença, pelo respeito ao direito que o outro tem e a outra tem de ser ele ou ela mesma. Quer dizer, o meu sonho é que nós inventamos uma sociedade menos feia do que a nossa de hoje, menos injusta, mas que tenha mais vergonha. Esse é o meu sonho. O meu sonho é um sonho da bondade e da beleza.
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