• Entrevista de Paulo Freire concedida à Carmelita e Mariângela Wanderlei
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    É urgente que percebamos que a nossa tarefa enquanto educadores populares não é a de ir às áreas populares para depositar na cabeça das populações um conteúdo temático que tenhamos adquirido em nossas leituras de livro. O que é fundamental é discutir com os grupos populares. Aplicar nesta discussão uma metodologia rigorosa de conhecimento do real, do conhecimento da realidade para que os grupos populares adquiriram o método de ler a realidade e não a conclusão da minha leitura. Isso é que é para mim o fundamental. Foi exatamente, por exemplo, a comparação não é boa, mas foi exatamente o que pretendemos fazer e sempre tentamos fazer, Elza e eu, com relação a nossos filhos. Não foi jamais eu que botei na cabeça deles o conhecimento acabado que não existe em primeiro lugar de A, E, I, O, U, mas a maneira crítica de conhecer. Então se você aprende a entender este canequinho aqui de café, você entende a mesa. Agora o que não é possível é eu meter na sua cabeça o que é esse caneco primeiro eu tenho que meter na sua cabeça o que é essa mesa. Depois o que é essa sala, depois o que é essa casa, depois o que é essa rua, depois o que é Estado. Entende? Então não tem fim. Daí a minha insistência. O que importa a nós é trabalhando com o povo, ler bem o real, respeitando inclusive as punições, e que o pouco se encontra diante desse real. É respeitar os temores do povo.
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